Voltamos à Idade Média?

Você deve ter acompanhado as últimas notícias sobre a tentativa por parte da prefeitura do Rio de Janeiro de censurar a venda da publicação Vingadores – A Cruzada das Crianças por causa de um beijo entre dois personagens, no caso Wicanno e Hulkling, durante a Bienal do Livro deste ano. Depois de uma batalha judicial entre a prefeitura e a organização da Bienal, o STF fez a constituição valer e declarou ilegal a apreensão dos livros. Mas você consegue perceber o quão bizarra e antidemocrática foi essa tentativa de censura?

Funcionários da prefeitura do Rio de Janeiro adentraram o evento em busca de livros que deveriam ser recolhidos por apresentarem “conteúdo impróprio” para crianças.

Sejamos claros aqui, essa tentativa de censura só ocorreu por pura homofobia, já que se fosse um beijo entre personagens que vivem uma relação heterossexual, nada disso estaria acontecendo. A prefeitura alegou que a publicação apresentava conteúdo impróprio para menores e que deveria estar embalada em plástico preto e sinalizando o conteúdo, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente, só que com essa atitude o que eles estão querendo dizer é que relações homossexuais são impróprias. Não há palavras para definir o quanto isso é absurdo, já que relações homoafetivas são relações de amor tanto quanto heterossexuais, de modo que o próprio Estado brasileiro já reconhece desde 2011 (demorou bastante, é verdade) o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Embora aqui no Justiça Geek não tenhamos o costume de produzir conteúdo com forte cunho político, é preciso deixar claro que somos contra qualquer forma de preconceito, conservadorismo e censura. Somos a favor do progresso, do respeito entre as pessoas e de um mundo no qual absurdos como a recolha de um livro que não apresente nada de anormal ou, sendo mais extremo, em que pessoas sejam assassinadas por causa de sua orientação sexual não aconteçam.

O que é mais triste é que há alguns leitores que defendem esse tipo de censura, basta ver alguns comentários em diversos grupos sobre quadrinhos na internet. Nem parece que essa galera leu X-Men, V de Vingança ou assistiu Star Wars, ou, se consumiram este tipo de conteúdo, preferiram ignorar completamente as mensagens que os autores procuraram transmitir. Essa é uma falha do nosso sistema educacional? Uma falha de caráter? Não sei ao certo, só sei que me entristece profundamente ver o ponto em que nossa sociedade chegou.

Em meio à vergonha recorrente que nosso país vem passando perante à comunidade internacional nos últimos tempos, não podemos permitir que esse tipo de atitude seja normalizada, que seja tratada como uma simples polêmica. É preciso impedir que voltemos pra idade média, é necessário que continuemos a evoluir e que mais gente se conscientize. São tempos sombrios, é verdade, mas é preciso que não percamos a luz. Foi bem legal ver as editoras e o público se unindo em manifestações durante a Bienal contra a censura, assim como a ação de distribuição de livros que foi promovida pelo Felipe Neto.

 

Bom, esse breve texto foi somente um posicionamento que achei necessário fazer, já que sabemos que não se posicionar em casos como este denota apoio a esse tipo de atitude execrável. Cada um de nós pode ajudar a combater isso levando cada vez mais conhecimento às pessoas, indicando boas leituras e condenando qualquer forma de preconceito. Espero que não voltemos à era das trevas.

 

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.