Akira – O mangá como nunca antes visto!

Quando falamos sobre quadrinhos, existem obras que se tornaram verdadeiros pontos de virada para a mídia, seja por inovação narrativa, seja por temática. Watchmen, Maus, Incal, Cavaleiro das Trevas, Sandman, entre outras, são obras que transformaram a forma de se produzir quadrinhos. Akira, obra escrita, desenhada e dirigida pelo lendário Katsuhiro Otomo, é mais um desses exemplos.

É pouco provável que você não saiba sobre o que se trata Akira, devido à grande fama do quadrinho e longa animado baseado nele, mas de qualquer forma aqui vai uma breve sinopse: Uma grande explosão fez com que Tóquio fosse destruída em 1988. Em seu lugar foi construída Neo Tóquio, que, em 2019, sofre com atentados terroristas por toda a cidade. Após atropelar uma criança de aparência estranha, Tetsuo Shima (o melhor amigo de Kaneda, membros da mesma gangue de motoqueiros), começa a sentir algumas reações anormais. Isso acaba chamando a atenção do governo que está projetando diversas experiências secretas e acabam sequestrando Tetsuo. Kaneda parte para resgatar o amigo, enquanto uma terrível entidade ameaça despertar.  Tudo isso em meio a uma trama que mistura conspiração governamental, experimentos em humanos e uma bela amizade.

Katsuhiro Otomo é um dos mais reconhecidos autores japoneses de todos os tempos, tendo recebido diversos prêmios e sendo Akira sua obra prima. Nesse quadrinho, Otomo constrói não só uma história sobre amizade, mas uma trama que está envolta em um forte contexto político, tecendo vários comentários e criticas que envolvem principalmente a ocupação japonesa feita pelos EUA após a Segunda Guerra Mundial. Embora se passe em um futuro distópico, Akira debate temas relevantes não só para a sociedade japonesa dos anos 80 (período de publicação da obra), mas que continuam presentes na sociedade atualmente.

O autor aproveita para debater temas como fanatismo religioso, a rebeldia adolescente, a utilização de drogas, o nacionalismo japonês e a tirania governamental em uma trama repleta de ação e um dinamismo visual nunca antes visto. A arte de Otomo aparenta ter movimento em meio a uma diagramação arrojada e a utilização de perspectivas e hachuras que tornam cenas como as perseguições de motos muito emocionantes e cinematográficas. É nítido todo o esmero que Otomo, ao lado de sua equipe de assistentes, teve ao elaborar cada página. Não à toa, esse cuidado com a arte e o roteiro fez com que a publicação levasse quase oito anos para ser concluído (entre os anos de 1982 – 1990), já que em certo ponto da publicação Otomo decidiu redesenhar diversas páginas para que se adequassem às suas ideias para a história, algo influenciado pela animação dirigida pelo próprio autor lançada em 1988 e que causou a paralização da publicação durante um tempo.

Por falar em animação, o longa animado de Akira foi um dos grandes responsáveis pela popularização da animação japonesa no ocidente. Aliás, é preciso dizer que o filme não é exatamente uma adaptação do mangá, na verdade é uma história muito diferente. Otomo sabia que estava trabalhando com uma mídia diferente e que provavelmente teria maior disseminação, então fez algumas alterações na história que tornam a animação um pouco mais palatável: Há uma diminuição no tom critico aos EUA e um aumento na ação, além de uma alteração sobre o que é Akira que chega a ser até mais chocante do que no quadrinho. Tudo isso contado com um estilo de animação que enche os olhos de qualquer expectador. Não me lembro de uma outra ocasião em que um autor teve a oportunidade de contar uma história com duas visões diferentes ao mesmo tempo e ter sucesso em ambas, como se fossem realidades paralelas nas quais os expectadores podem escolher o que preferem.

Esse pôster do filme é uma das imagens mais icônicas da cultura pop. Quantas paródias você já viu dele?

Akira não foi influente apenas nos quadrinhos e animações, mas também na cultura pop como um todo. A obra virou um dos alicerces nos quais qualquer história com temática cyberpunk se apoia, a exemplo de filmes como Matrix e Poder Sem Limites, além de ter servido de influência na música. O caso mais famoso é o clipe da canção Stronger, do rapper americano Kanye West, no qual ele replica cenas da obra, além de já ter declarado que Akira é uma de suas principais influências como artista.

Para se ter uma ideia da magnitude de Otomo, ele já recebeu os mais diversos prêmios como o Eisner, o Harvey e o Angoulême pelo conjunto da obra, um dos mais prestigiados no mercado europeu. Além disso, ele consegue misturar influências diversas como Osamu Tezuka, Shotaro Ishinomori e Moebius.

Aqui no Brasil, originalmente a obra foi publicada pela editora Globo baseada nas edições publicadas pela Marvel nos EUA, em 38 edições com leitura ocidental e coloridas pelo excepcional Steve Oliff, hoje dificílimas de serem encontradas. Felizmente, a partir de 2016, a editora JBC publicou em seis volumes a série em seu formato original, com um tamanho um pouco maior que o tradicional de mangás, capa cartão e sobrecapa.

Com relação a animação, ela já foi exibida algumas vezes no cinema, lançada em DVD e, no momento em que esse texto é publicado, está disponível no catálogo da Netflix. Ou seja, tanto o quadrinho quanto o filme estão disponíveis para que você possa consumi-los.

Akira é uma obra única, um dos maiores fenômenos da cultura pop em todos os tempos e uma demonstração do talento de Katsuhiro Otomo e sua versatilidade nas mais diversas mídias. Chega a ser um pouco repetitivo falar sobre o termo “obrigatório”, mas aqui ele se aplica adequadamente. Infelizmente, embora Akira tenha feito um sucesso estrondoso, nunca tivemos outros trabalhos de Otomo publicados por aqui, seja pela dificuldade de licenciamento (já que o autor é bastante zeloso com seus trabalhos), seja por um pouco de falta de interesse das editoras. Espero que a situação mude, os leitores brasileiros agradeceriam.

Katsuhiro Otomo é um dos mais geniais artistas de todos os tempos.

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Ficha técnica

Editora: JBC
Tradução: Drik Sada
Ano de lançamento: 2017-2019 (6 volumes)
Páginas: entre 352 e 440
Preço: Entre R$69,90 e R$76,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.