As Crônicas da Era do Gelo – Jiro Taniguchi como você nunca viu!

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Quando ouvimos o nome de Jiro Taniguchi, tendemos a pensar em obras um pouco mais introspectivas e reflexivas, que levam o leitor a situações cotidianas para apresentar um certo grau de identificação. É o que vemos em trabalhos como O Homem Que Passeia, Gourmet Solitário e Guardiões do Louvre. Mas há faceta versátil em seu trabalho que ainda não conhecíamos, a capacidade do autor de produzir uma história de ficção científica que impressiona pelos conceitos e pela narrativa. É o que encontramos em As Crônicas da Era do Gelo.

Em uma época indeterminada no futuro, o clima enlouqueceu e o planeta foi devolvido à Era do Gelo. As potências mundiais como as conhecíamos deixaram de existir. Algumas criaturas se adaptaram à nova realidade para continuarem perseverando, ao passo que os seres humanos, mais do que nunca, passam a depender da tecnologia para sobreviverem à natureza implacável. É neste cenário desolado que acompanhamos a trajetória de Takeru Yamato, funcionário da estação mineradora Talpa, incumbida pela capital Abyss de coletar recursos naturais que se encontram muito abaixo da superfície. Depois de um acidente, ele é obrigado a se tornar comandante de um bravo destacamento que precisará cruzar o deserto congelado em busca de respostas para súbitas alterações climáticas. Uma jornada que o colocará em contato com deuses gigantes vindos do espaço!

A obra foi originalmente publicada entre 1988 e 1990 e fica claro que Taniguchi se inspirou muito no trabalho de Katsuhiro Otomo em Akira, não tanto com relação à história, mas muito com relação ao estilo artístico. O autor constrói um roteiro que apresenta conceitos muito interessantes que remetem ao melhor que existe na ficção científica e, além disso, utiliza muito bem uma das principais características desse gênero: a extrapolação da realidade para tecer comentários sobre a época em que escreveu a história. Há evidentes críticas sobre como o ser humano trata o meio ambiente e em como isso pode acarretar em consequências devastadoras.

Com relação a arte, Taniguchi apresenta um traço muito diferente ao que vimos em seus trabalhos publicados por aqui. Sai o traço com forte inspiração em linha clara e narrativa lenta e contemplativa e entra um traço cheio de detalhes e uma narrativa arrojada, que mantém o nível de ação muito alto durante toda a trama. Como mencionei antes, fica clara a influência de Otomo nesse trabalho e a versatilidade que Taniguchi consegue imprimir em trabalhos completamente diferentes.

Entretanto, o quadrinho tem alguns problemas. Publicada em dois volumes, a obra tem todo cuidado na apresentação dos conceitos e condução da história durante o primeiro volume, mas a partir do segundo tudo fica bem corrido, o que deixa claro que o desempenho em vendas não deve ter sido muito bom e Taniguchi teve que agilizar o encerramento, o que acabou prejudicando a história. O próprio autor em seu posfácio comenta que gostaria de voltar a esse universo para encerrar algumas pontas soltas, mas infelizmente não conseguiu antes de falecer em 2017.

Os dois volumes da obra seguem o padrão de qualidade da editora Pipoca e Nanquim em seu selo de mangás, Drago, com capa cartão, sobrecapa e papel pólem de boa gramatura, além de marcadores de página. Em questão de extras há apenas o já mencionado posfácio do autor em que ele comenta sobre a produção da obra. O processo de tradução e revisão é competente, sem erros perceptíveis.

As Crônicas da Era do Gelo é uma boa oportunidade de conferir a versatilidade de Jiro Taniguchi e como ele é um autor que vai bem além do estilo contemplativo que estamos acostumados em suas obras. Embora tenha alguns tropeços, vale a leitura se você é fã do autor ou de boas histórias de ficção científica.

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Ficha técnica

Editora: Pipoca e Nanquim
Tradução: Drik Sada
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 276 (vol 1) e 312(vol. 2)
Preço: R$54,90 (cada volume)

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.