Batman – O Espelho Sombrio – Quem disse que Scott Snyder não sabe escrever o Batman?

A fase em que Scott Snyder escreveu a revista do Batman durante os Novos 52, ao lado do talentoso Greg Capullo, divide muito os fãs. Embora sempre tenha mantido a revista no top 10 de vendas, boa parte dos leitores odiou a fase, julgando que o roteirista gosta de gerar hype em suas histórias, mas não entregar o que foi prometido, além de apresentar alguns conceitos mirabolantes. Entretanto, poucos leitores se atentam ao que Snyder fez antes dos Novos 52, quando escreveu a revista Detective Comics, protagonizada por Dick Grayson que atuava como Batman à época, onde fez um dos melhores trabalhos de sua carreira e uma das histórias mais interessantes do Homem Morcego neste século. É isso que vemos em Espelho Sombrio, história na qual Snyder esteve acompanhado por Jock e Francesco Francavilla na arte e David Baron e o próprio Francavilla nas cores.

Esse quadrinho reúne uma série de arcos relacionados entre si nos quais o Batman terá de investigar algumas situações que envolvem desde um famoso leiloeiro que comercializa equipamentos de diversos vilões de Gotham até uma misteriosa morte ocorrida em um banco de investimentos de Gotham cujo a dona está ligada ao passado de Dick Grayson. Enquanto isso, o Comissário James Gordon é confrontado pelo retorno de seu filho, James Gordon Jr., cujo passado está envolto em mistérios que sugerem que ele é um psicopata. Gordon se recusa a acreditar em tal hipótese, mas sua filha, Bárbara, a Oráculo, lhe traz algumas evidências inquestionáveis. Tramas paralelas que parecem não tem nenhuma relação, mas que propiciam um verdadeiro thriller policial que envolverá o Batman, a família Gordon e antigos terrores de Gotham.

Scott Snyder sabe como conduzir cada uma das tramas de forma que elas fiquem perfeitamente entrelaçadas, num clima investigativo que remete às melhores histórias protagonizadas pelo Homem Morcego. O autor sabe que está trabalhando com um personagem muito diferente de Bruce Wayne e isso traz uma dinâmica completamente diferente para as tramas, com um Batman menos impetuoso, mas igualmente cerebral. O trabalho que Snyder faz com o aprofundamento de James Gordon Jr. como um dos vilões mais aterrorizantes de Gotham é digno de filmes como Seven ou Silêncio dos Inocentes, mas é interessante pois inicialmente o roteirista apresenta algumas dúvidas ao leitor, fazendo com que nos questionemos se o filho do comissário é realmente tão cruel quanto parece.

O único problema ao meu ver é que, como em boa parte de seus trabalhos, Snyder desliza um pouco ao finalizar a história, apresentando uma situação que parece muito conveniente para produzir uma reviravolta na trama. Entretanto, não é algo que compromete o trabalho como um todo.

Os traços de Jock e Francavilla trazem o clima sombrio que a história pede, aliás é inventiva a forma como ambos trabalham a narrativa e como entrelaçam seus trabalhos quando as tramas paralelas se unem. A diagramação das páginas é algo que chama a atenção, pois é com isso que os artistas aumentam e diminuem o ritmo das histórias para prender o leitor a cada virada de página. Um trabalho acima da média, sem dúvidas.

A edição da Panini possui capa dura, papel couché de boa gramatura e alguns extras. Entre eles os rascunhos das capas produzidas por Jock (a do Coringa se tornou icônica) e Francavilla. Quanto ao trabalho editorial, não há erros perceptíveis, algo sempre importante de ser destacado.

Batman – O Espelho Sombrio é uma prova de Scott Snyder pode escrever boas histórias, ao menos quando está inspirado e sem grandes ambições. Se você é um dos detratores de sua fase nos Novos 52, eu mesmo não sou entusiasta dessa fase, vale a pena dar uma chance para este quadrinho. E se você gosta de histórias investigativas que envolvem psicopatas, O Espelho Sombrio é um prato cheio.

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Ficha técnica

Editora: Panini
Tradução: Bernardo Santana
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 296
Preço: R$104,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.