Jack, o Estripador é um dos assassinos em série mais famosos da história da humanidade, com diversas teorias sobre suas motivações para cometer assassinatos tão terríveis e sobre sua identidade, até hoje não revelada. Quando uma história como essa é contada por um dos maiores autores de quadrinhos de todos os tempos, é de esperar que uma grande obra seja produzida. É o caso de Do Inferno, quadrinho escrito por Alan Moore e desenhado por Eddie Campbell.
Em Do Inferno, Moore não faz mistério sobre a identidade de Jack. Nessa história ele é William Gull, médico que prestou seus serviços à família real e que recebe uma missão diretamente da rainha Vitória: assassinar cinco mulheres que sabem um segredo que pode comprometer a sucessão da família real inglesa. Em uma trama que irá envolver a maçonaria, a polícia e misticismo, o autor busca discutir sobre o impacto que os assassinatos tiveram na sociedade e como isso foi transformador.
Alan Moore é um dos mais brilhantes autores de quadrinhos de todos os tempos e Do Inferno é um de seus grandes trabalhos, ao lado de Watchmen, V de Vingança, Miracleman e Prometheia. O autor não está tão preocupado em afirmar categoricamente que Gull era o assassino (nos extras, inclusive, ele afirma que essa é uma teoria furada e pouco provável), mas usando este elemento ele constrói uma trama que envolve diversos setores da sociedade inglesa e que também irá discutir sobre magia, algo que Moore já explorou em outros trabalhos. É muita interessante a forma com a qual ele usa os assassinatos realizados por Jack como um ponto de transição entre os séculos XIX e XX e a forma com a qual ele usa a estrutura do quadrinho para cadenciar o ritmo da narrativa e apresentar momentos chocantes e surpreendentes no meio de uma trama que as vezes apresenta um ritmo mais lento.
O trabalho do autor é impressionante e isso fica ainda mais evidente quando se lê os extras que, nesse caso, são indispensáveis para a total compreensão da obra (e para descobrir algumas participações especiais). São nos apêndices que Moore se dedica a explicar quadro a quadro da história, detalhando de onde tirou cada detalhe da história e quais são suas opiniões sobre os acontecimentos. Somente um autor obcecado em contar uma grande história e meticuloso na linguagem dos quadrinhos como Moore pode produzir uma história com tal magnitude.
Muito se fala sobre o trabalho do Mago de Northampton nesse quadrinho, mas é inegável que Do Inferno não seria a metade do que é sem a arte de Eddie Campbell. É curioso como o artista consegue imprimir realismo em uma página e abstração em outra. Seu traço representa a sombria Londres do Século XIX, fruto de uma profunda pesquisa, e faz com que o leitor quase possa sentir até o cheiro daqueles cenários. Não é à toa que o quadrinho levou 7 anos para ser concluído (1989-1996), Moore e Campbell se esforçaram para que o melhor de cada um estivesse presente nesse trabalho.
O quadrinho recebeu diversos prêmios, entre eles o Eisner de melhor história serializada (1993), Melhor Escritor (1995, 1996, 1997) e melhor reimpressão (2000), o Harvey de melhor série (1995) e de melhor compilação de trabalho publicado anteriormente (2000), e o prestigiado Prêmio da Crítica no Festival de Angouleme (2001). Isso demonstra o quão renomado Do Inferno e o quanto sua publicação foi impactante.
A editora Veneta trouxe o quadrinho em formato capa dura, papel lux cream e uma capa exclusiva para o mercado brasileiro. Sempre menciono como o trabalho dessa editora é digno de elogios, sempre trazendo trabalhos que estão fora do radar da maioria dos leitores. É importante mencionar também que Do Inferno havia sido publicado pela editora Via Lettera anteriormente em quatro álbuns.
Do Inferno é um dos pontos altos da carreira de Alan Moore, um trabalho que mistura uma meticulosa pesquisa histórica com elementos místicos e que impressiona o leitor não só com a trama, mas também com sua estrutura. Não perca tempo e leia, jamais se deve desperdiçar a oportunidade de apreciar os truques do mago de Northampton.
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Ficha técnica
Editora: Veneta
Tradução: Jotapê Martins
Ano de lançamento: 2014
Páginas: 592
Preço: R$139,90
Lucas Araújo
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