O Imortal Hulk: Homem, Monstro … ou Ambos? – De volta às origens!

Eu sempre gostei do Hulk. O filme protagonizado pelo personagem e dirigido por Ang Lee foi o primeiro filme de super-herói que fui ver no cinema, mas o primeiro contato que tive com o personagem foi a série dos anos 80, por meio de reprises, estrelada por Bill Bixby, interpretando David Bruce Banner (sim, com um nome adicional mesmo), e Lou Ferigno, interpretando o gigante esmeralda. Por mais simples e tosca que ela possa parecer, muito por limitações da época, era muito bacana ver a abordagem do personagem utilizada na série, com o Hulk sendo uma verdadeira maldição para Banner, que no fim dos episódios sempre era mostrado melancólico numa estrada sem saber para onde ir e uma trilha sonora bem triste. Mesmo que nos quadrinhos ele tenha tido uma abordagem mais heroica diversas vezes, em histórias que se resumem a cenas de porradaria contra vilões, ele acaba voltando às suas origens relacionadas ao suspense e à melancolia. É isso que acontece em Imortal Hulk, série escrita por Al Ewing e desenhada pelo brasileiro Joe Bennett e que a Panini compilou as cinco primeiras edições no encadernado com o título Homem, Monstro… ou Ambos?

A série tem uma proposta que lembra bastante o que foi feito por Alan Moore em Monstro do Pântano, no qual o personagem vagava os EUA enquanto resolvia casos sobrenaturais que referenciavam de maneira muito inteligente as mazelas sociais do país. Ewing não é tão hábil em retratar temas sociais, até porque este nem é o foco da série, mas em Imortal Hulk ele procura inserir Bruce Banner em um caso diferente por edição, num ritmo muito similar a uma série de tv, seja o assassinato de uma garotinha, seja os experimentos de um cientista fissurado com radiação gama, ao mesmo tempo em que ele tem que lidar com seu próprio demônio interno.

O roteiro foge bastante da abordagem comum feita geralmente com super-heróis, apostando pesado no terror. O desespero de Banner é muito bem explorado, assim como as cenas nas quais o Hulk aparece (sempre à noite, referenciando a origem do personagem), onde o autor sabe conduzir muito bem a tensão necessária para imprimir o medo que os personagens estão sentindo.

O roteiro de Ewing com certeza é o grande atrativo da série, mas é necessário dizer que o trabalho de Joe Bennett é muito competente. Ele referencia os desenhistas que publicavam em revistas clássicas de terror como a Eerrie e a Creepy, assim como filmes clássicos do gênero, por exemplo, O Enigma de Outro Mundo do mestre John Carpenter. Ele não tem muita identidade no traço, mas é visível que no decorrer das edições ele vai se soltando a aprimorando sua arte e narrativa. Uma pena que as cores não casam com o clima da história e tiram um pouco do peso da arte.

Ainda sobre à arte, é importante mencionar o excelente trabalho de Alex Ross nas capas, que são essenciais em mostrar o clima das histórias logo em sua apresentação. Faz muito tempo que ele não produzia capas para uma série de forma regular e é muito legal ver ele de volta logo em um quadrinho de tanta qualidade quanto este.

A edição da Panini tem um formato excelente: papel lwc, capa cartonada e um preço bastante convidativo. Além de conter as histórias em si, ainda há alguns extras como esboços dos artistas, capas extras da série e um elucidativo posfácio escrito por Al Ewing no qual ele comenta sobre seu primeiro contato com o personagem e quais são suas ideias para a série.

Imortal Hulk é uma das séries mais legais lançadas pela Marvel na atualidade, tanto que foi indicada ao prémio Eisner de Melhor Série e está marcando presença na lista de quadrinhos mais vendidos dos EUA, na frente do hypado Batman de Tom King. É um dos melhores lançamentos deste ano e merece ser acompanhado independente se você é fã do personagem ou não. Se você quer um quadrinho de super-herói bem feito e diferente do comum, não pode deixar esta série passar.

Ficha técnica

Editora : Panini
Ano de lançamento: 2019
Páginas: 128
Preço: R$ 21,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.