Shade, O Homem Mutável: Vol. 2 – O Limite da Visão- Loucas oscilações!

Continuando a viagem pelos EUA devastados pela loucura,iniciada em O Grito Americano, a Panini lança Shade, O Homem Mutável: Vol. 2 – O Limite da Visão, encadernado que reúne as edições 07 a 13 de Shade, The Changing Man, escrito por Peter Milligan e com desenhos de Chris Bachalo (exceto pela edição 10 com desenhos de Bill Jaaska). Caso você não conheça o personagem e não faça ideia sobre o que estou falando, leia o primeiro volume da publicação e a nossa respectiva resenha para maior compreensão.

O primeiro volume de Shade foi uma das minhas melhores leituras esse ano. A forma como Peter Milligan criticava os EUA utilizando a loucura como forma de não limitar a criatividade e em um clima “road movie” é algo que nunca havia visto nos quadrinhos. Este segundo volume continua bom, mas acho que o autor se perdeu um pouco na metade do caminho por motivos que explanarei no decorrer do texto.

Este encadernado possui 3 arcos. O primeiro, chamado Os Inominados, é muito bom e mantém a pegada do volume anterior. Nesta história, conhecemos o drama de uma pessoa que tentou alcançar o sucesso mas que não conseguiu nada mais do que acabar na sarjeta. Devido ao fluxo da loucura, Shade e Kathy sentem na pele o drama vivido por moradores de rua e indigentes, que são os verdadeiros Inominados que dão o título à história.

No arco seguinte, Love & Haight, Milligan eleva a loucura ao infinito e é aí que o escritor se perde. Por mais que o contraste muito bem trabalhado entre o movimento hippie e a atual situação dos EUA seja bastante interessante, muitas coisas acabam ficando sem sentido. A coisa se transforma em loucura pela loucura (algo semelhante ao que Morrison fez em Patrulha do Destino) e a inteligência com a qual o autor utilizava o contexto das histórias para fazer críticas sociais parece desaparecer. De positivo mesmo só a arte de Bachalo, que eleva a psicodelia ao extremo e honra Steve Ditko, o criador do personagem.

A história que liga este arco com o último, chamada Vampiro de Normas, volta a buscar a crítica social que mencionei. Nessa história, o fluxo da loucura concentra a insanidade de um traumatizado cidadão de uma pequena cidade no interior dos EUA, na qual uma onda macarthista está impulsionando uma caça as bruxas contra pessoas que não estão agindo “normalmente”. Está é a história desenhada por Bill Jaaska, que faz um trabalho competente porém não explora a psicodelia que Bachalo sempre tenta trazer às histórias.

No último arco, chamado Limite da Visão e que dá nome ao encadernado, as coisas voltam ao alto nível inicial da série. Neste arco temos a volta de Troy Grenzer, o assassino dos pais de Kathy e dono do corpo que Shade possuiu, que causa arrepios na co-protagonista da série. O confronto entre Shade e o Assassino é interessantíssimo, tanto pela inteligência como é construído quanto pelo local no qual ocorre.

Por mais que haja uma oscilação entre as histórias, Shade consegue manter o nível e continua valendo o investimento. Peter Milligan, por algum motivo, é um dos autores mais subestimados da Invasão Britânica e acho que o leitor que procura algo diferente do padrão super-herói deveria correr atrás dos trabalhos dele. Espero que a Panini dê continuidade à série para que possamos continuar nesta viagem pela loucura.

Editora : Panini
Ano de lançamento:2016(originalmente publicado em 1990)
Páginas:196
Preço:R$25,90
Onde encontrar:Bancas de jornal e lojas especializadas

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.