Slam Dunk – O gênio das quadras e o gênio dos quadrinhos!

Imagine que você é um editor da Shonen Jump, revista famosa por séries como Dragon Ball, Naruto e One Piece, no ano de 1990. Um jovem mangaká apresenta uma ideia de um mangá sobre basquete, esporte tabu no Japão, devido à altura de sua população. O que você pensaria? Pediria para o autor bolar alguma outra ideia e esquecer isso? Bem, se o fizesse, perderia a chance de publicar um dos mangás mais populares da história da revista. Estou falando de Slam Dunk, obra escrita e desenhada por Takehiko Inoue, publicada entre os anos de 1990 e 1996 e que até hoje é uma das obras mais vendidas da história do mercado de publicação japonês.

A obra é protagonizada por Hanamichi Sakuragi, um valentão líder de uma gangue muito impopular com as garotas, tendo sido rejeitado cinquenta vezes por elas. Ele está no primeiro ano do ensino médio no colégio Shohoku, onde conhece Haruko Akagi, uma gentil garota que gosta muito de basquete, por quem se apaixona imediatamente. A fim de impressioná-la, Sakuragi decide entrar para o time de basquete da escola, que é capitaneado pelo irmão de Haruko, Takenori Akagi. Embora ele seja um verdadeiro desastre no esporte, Sakuragi começa a gostar de basquete, evolui e acaba conhecendo Kaede Rukawa, um verdadeiro talento do basquete e muito popular com as garotas, que acaba se tornando seu rival, Ryota Miyagi, um pequeno mas rápido armador, e Hisashi Mitsui, um especialista no arremesso de três pontos que já foi o considerado o melhor jogador de basquete de sua idade, e juntos formam uma equipe forte , treinada pelo lendário professor Anzai, que começa a ganhar fama e vira candidata ao título do campeonato nacional.

Takehiko Inoue, o gênio responsável por Slam Dunk.

Se você não curte basquete ou quadrinhos de esporte, pode achar que Slam Dunk é chato, mas estará redondamente enganado. Esse quadrinho não é apenas uma história de um time de basquete, mas um misto entre humor, drama, histórias de superação e amizade. Poucas vezes ri tanto com um quadrinho quanto ri com Slam Dunk, ou vibrei para que os personagens obtivessem uma vitória. Inoue é muito hábil em não deixar que a história fique muito pesada, alternando muito bem entre momentos mais dramáticos e momentos mais engraçados. O autor sabe como explorar cada personagem, todos eles têm espaço para brilhar e serem aprofundados, fazendo com que o leitor não fique apegado apenas ao protagonista, mas sim a diversos personagens.

Não só os personagens evoluem, mas também o traço de Inoue. Você deve conhecer seus desenhos deslumbrantes em Vagabond, a obra que deu sequência à sua carreira de sucesso, mas é em Slam Dunk que você vê como ele chegou neste ponto, basta comparar a arte do primeiro e do último volume e você vai perceber uma diferença absurda. O artista é um dos mais talentosos que eu já vi, já que ele sabe muito bem como apresentar quadros belíssimos e contar uma história com uma narrativa extremamente ágil. Cada jogo de basquete apresentado na obra é eletrizante e realista (não, esse não é um Super Campeões de basquete rs), é impossível largar qualquer um dos volumes até a última virada de página e não torcer para que o Shohoku vença cada partida. O brilho de Slam Dunk está tanto na história quanto na forma em que ela é contada.

O impacto cultural de Slam Dunk no Japão foi enorme. O mangá foi responsável em alavancar o basquete no país, tornando o esporte muito popular por lá. Takehiko Inoue foi agraciado diversas vezes com prêmios pelo seu papel no incentivo ao esporte, além de ter criado o projeto Slam Dunk Scholarship, que fornece bolsas de estudo para estudantes japoneses e incentiva que eles pratiquem basquete.

O autor colocou muito de si na obra, já que ele mesmo é um fanático pelo esporte. Há também claras referências à jogadores e times reais, como, por exemplo, Sakuragi tem muito de Dennis Rodman, um dos maiores ala-pivô da história da NBA e reconhecido por sua extravagância e raça nos jogos, Akagi lembra Patrick Ewing, um dos grandes pivôs da história da NBA, e cada time da província de Kanagawa, onde a história se passa, possuem as cores de times da NBA. O Shohoku, por exemplo, utiliza as cores do Chicago Bulls, time no qual jogou Michael Jordan, o maior jogador de basquete de todos os tempos. Um outro detalhe interessante, pelo menos para quem gosta do assunto, é o cuidado de Inoue em colocar cada jogador utilizar um modelo de tênis clássico da época em que a obra era publicada.

Você deve estar se perguntando se uma obra tão popular possui um anime, e a resposta é sim. Entretanto, ele não cobre a história toda do mangá, na verdade deixa sua melhor parte de fora, que é o campeonato nacional, e também não está disponível de maneira legal no Brasil. É um pouco estranho, mas a boa notícia é que o próprio Inoue anunciou no início deste ano que Slam Dunk terá um novo filme animado e, embora não se saiba que parte da obra ele irá adaptar, faria muito sentido que fosse justamente a que ficou faltando na primeira série animada.

Slam Dunk é uma obra que marca o leitor, tenho certeza que levarei esses personagens comigo pelo resto da vida. Seu final emocionante, sobre o qual não comentarei aqui para evitar spoilers, é um dos melhores encerramentos que eu já vi, deixando uma sensação de querer mais e uma esperança de que Inoue algum dia retorne para a obra. Se você não leu, aproveite que a Panini publicou a obra completa recentemente (em 24 volumes maiores, ao invés dos 31 de formato tradicional) e dê uma chance. É muito provável que se torne uma de seus quadrinhos favoritos também.

Ficha técnica

Editora: Panini
Total de volumes: 24
Ano de lançamento: 2016-2020
Preço: entre R$ 18,90 e R$ 24,90 por volume

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.