Buscavidas – Vivendo outras vidas!

É impressionante como o quadrinho argentino consegue apresentar uma grande variedade de gêneros, desde coisas mais realistas até histórias com elementos mais fantásticos, como é possível ver em obras como A Grande Farsa, O Eternauta, O Guarani e Mort Cinder, sempre com grande qualidade tanto nos roteiros quanto nos desenhos. Quando os geniais Carlos Trillo e Alberto Breccia se reúnem para produzir uma obra, pode ter certeza que você encontrará uma boa história. Esse é o caso de Buscavidas.

Esse quadrinho nos apresenta Buscavidas, um estranho colecionador de confidências, que ao invés de viver sua própria vida, prefere obter as mais diversas histórias de vida das pessoas com as quais ele conversa. Seja nos bares, no trem, no antiquário ou no meio da rua, ele mostra um talento especial para encontrar os protagonistas de anedotas e desventuras que cataloga e arquiva em sua biblioteca particular, testemunho de uma humanidade triste e desesperada.

A premissa do quadrinho é intrigante por si só, só podendo ter sido criada por um gênio no nível de Carlos Trillo, um dos maiores roteiristas de quadrinhos que a Argentina já produziu (ele é considerado o segundo maior, atrás apenas de Héctor Oesterheld), tendo recebido diversos prêmios ao longo de sua carreira. Em Buscavidas ele mostra toda a sua versatilidade ao apresentar diversas histórias curtas protagonizadas pelos mais variados personagens, já que o personagem que dá título à obra é apenas um ouvinte das histórias (embora também seja o que interliga todas elas), que transitam de forma muito natural entre o humor e o drama. Há muita densidade em cada um dos contos, todos eles podem propiciar longas discussões sobre os assuntos que abordam, principalmente no que tange a alguns aspectos da natureza humana, por mais bizarros que possam parecer.

Alberto Breccia é um dos mais geniais artistas que já passaram pelos quadrinhos, tendo influenciado artistas como Frank Miller e Chabouté e apresentado um trabalho com o qual sempre procurou não se repetir. Em Buscavidas, o traço de Breccia é muito diferente daquele com aspecto mais realista e com tons de cinza que os leitores brasileiros se acostumaram a ver. Aqui o artista apresenta desenhos desformes e abstratos que brincam muito com o alto contraste, utilizando o preto e o branco para compor os quadros das páginas e personagens que, mesmo em algumas situações representando arquétipos reconhecidamente belos, são distorcidos para representar a natureza humana, casando perfeitamente com a intenção do roteiro de Trillo. Há ainda uma história escrita pelo próprio Breccia, na qual ele faz uma homenagem à Oesterheld, utilizando os protagonistas de Mort Cinder e apresentando de maneira impar uma junção entre seu estilo mais abstrato com o mais tradicional usado em outras obras. Coisa de Gênio.

A edição da Comix Zone apresenta o bom acabamento gráfico tradicional de suas publicações, com capa dura, papel offset de alta gramatura e um tom metálico nas cores da capa que chama a atenção. Além disso, o trabalho editorial é bastante competente, com um bom trabalho de revisão e apresentação de extras que envolvem um prefácio escrito por Álvaro Pons, diretor do Departamento de Estudos das Histórias em Quadrinhos Fundação SM – Universidade de Valência, que apresenta um aprofundamento sobre a evolução do trabalho de Alberto Breccia, e também esboços de Breccia que ajudam a entender um pouco mais sobre seu processo criativo para conceber essa obra. A editora também merece elogios por estar trazendo muitos quadrinhos argentinos para o nosso mercado, ajudando os leitores brasileiros a conhecerem os trabalhos dos nossos vizinhos da América do Sul.

Buscavidas é um quadrinho sofisticado, tanto em roteiro quanto em arte, que traz reflexões ao leitor e que demonstra como os quadrinhos podem ser explorados das mais diversas formas. Se você quer conferir o que pode ser produzido quando dois gênios se reúnem, é uma leitura indispensável. Nunca deixe de conferir uma obra que tenha o nome de Trillo e Breccia na capa.

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Ficha técnica

Editora: Comix Zone
Tradução: Jana Bianchi
Ano de lançamento: 2020
Páginas: 144
Preço: R$69,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.