Crise de Identidade – Um clássico ou um erro?

Os anos 80 com certeza foram uma das épocas mais prolíficas da indústria de quadrinhos norte-americana. Obras como Watchmen e Batman – Cavaleiro das Trevas trouxeram uma nova abordagem para o gênero de super-heróis, mais sombria e pessimista, que infelizmente foi deturpada nos anos 90, principalmente nas obras publicadas pela Image em seus primórdios. Em meados dos anos 2000, a DC resolveu ressuscitar um pouco deste aspecto sombrio para sua linha editorial, trazendo uma perspectiva diferente para seus heróis, que agora possuíam segredos que mudariam suas vidas para sempre. Foi neste contexto que surgiu Crise de Identidade, quadrinho escrito por Brad Meltzer, desenhado por Rags Morales e com cores de Alex Sinclair.

Na trama acompanhamos um pouco da trajetória de Ralph Dibny, o Homem-Elástico, um dos poucos heróis que tem sua identidade secreta conhecida pelo público, e de sua esposa, Sue. Quando ela é assassinada em casa de maneira bastante brutal e misteriosa, toda a comunidade heroica começa uma investigação para encontrar o culpado pelo crime. Entretanto, um grupo formado por Arqueiro Verde, Canário Negro, Gavião Negro, Eléktron, Zatanna e o próprio Homem Elástico possui um segredo que pode estar relacionado ao assassinato e que, se revelado, pode modificar para sempre a relação entre heróis e vilões.

Esse quadrinho rapidamente conquistou o gosto de boa parte dos leitores, seja pela interessante trama de investigação, a perspectiva mais sombria dos personagens ou os bons diálogos durante a trama, sendo alçado a um dos grandes clássicos da DC. Porém, a trama apresenta diversas inconsistências e gratuidades que me fazem entrar para o time de leitores que não gosta tanto assim da história.

Brad Meltzer é bom escritor, um romancista renomado, embora ele não tenha sido muito publicado por aqui e seus livros não fizeram sucesso com o público brasileiro, mas é visível que seu texto tem qualidade. O autor sabe como escrever bons diálogos e fazer com que o leitor seja imerso na trama através de caixas de texto que ambientam muito bem a trama, além de escrever passagens memoráveis e emocionantes que trabalham muito bem o relacionamento entre alguns dos heróis. A passagem em que ele fala do relacionamento entre Batman e Robin é uma das mais legais já feitas com os personagens.

Porém, é um pouco visível que ele não parece conhecer alguns personagens com os quais está trabalhando. Embora faça um ótimo trabalho com o Arqueiro Verde e o núcleo do Batman, por exemplo, ele comete erros com personagens como Lanterna Verde e Flash, como na famosa cena da luta com o Exterminador, uma das coisas mais sem sentido que eu já li. Há também um uso muito desnecessário de estupro na trama, que me pareceu bastante gratuito e que incomoda simplesmente porque tem o objetivo de chocar. Além disso, o autor se perde um pouco na última edição, trazendo um fechamento corrido para a trama, causando uma quebra de expectativa ao leitor, que esperava algo muito mais elaborado.

A arte de Rags Morales é bastante competente, um traço padrão de quadrinhos de super-heróis, mas bastante competente, com algumas sacadas narrativas bastante interessantes. Me impressiona que não tenhamos um volume maior de trabalhos de Morales na DC, acho que é um artista que deveria ter sido mais valorizado pela editora.

A edição da Panini tem capa dura, papel de boa qualidade, tratamento editorial sem erros e uma galeria de extras na qual os autores conversam sobre a história e dão alguns detalhes sobre a produção, algo que particularmente me agrada bastante. Os extras ajudam a entender porque Meltzer resolveu adotar certas escolhas, mas no geral não justificam os problemas do quadrinho.

Crise de Identidade é um quadrinho que marcou a DC, seja para bem ou para mal. É uma trama que possui alguns problemas nas escolhas do autor e em seu fechamento, mas que vale a conferida para que o leitor tire suas próprias conclusões. Ao menos garanto que você não ficará indiferente à história.

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Ficha técnica

Editora: Panini
Tradução: Fabiano Denardin e Jotapê Martins
Ano de lançamento: 2018 (originalmente 2004)
Páginas: 264
Preço: R$68,00

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.