Demolidor (Netflix) – Impressões de um leigo em HQ’s, sem spoilers

Salve, Justiceiros!

Acabei de assistir a segunda temporada do Demolidor e o meu sentimento nesse momento é aquela tristeza de quando você termina um livro ou série muito bom. Você sabe que vai sentir saudades dos personagens e, no caso da série, o único consolo é saber que certamente vai ter temporada nova daqui a alguns meses.

Se você acompanha o Justiça Geek, já percebeu que aqui na redação nós estamos divididos em especialidades, e os quadrinhos não são a minha. Apesar de ser fã de alguns super heróis (como o Batman e os X-Men), nunca fui muito de acompanhar a mídia original deles, e confesso que mesmo nesse hype que está sendo gerado com tantas grandes produções cinematográficas dos heróis da Marvel (e agora da DC também), eu nem de longe fico tão empolgado com esses filmes quanto meus colegas quadrinheiros aqui do Justiça (a minha vibe é muito mais medievalista – sim, estou contando os dias para a estreia de Game of Thrones).

E mesmo assim, eu fiquei rapidamente viciado nessa série do Netflix. Tudo que os filmes heróicos do novo universo cinematográfico da Marvel tem de leve, cômico e blockbuster/pastelão, o Demolidor do Netflix tem de sóbrio, sério e de bem escrito.

Sobre os atores

Comecei a assistir a primeira temporada de Demolidor, há alguns meses, por indicação de várias pessoas, mas ainda assim com expectativa baixa, pois não sou grande conhecedor do personagem nos quadrinhos e ainda tinha resquícios daquela má impressão deixada pelo infeliz filme de 2003 com Ben Affleck no papel principal.

Demolidor meme 2

Lembro que, quando comecei a assistir a primeira temporada, a primeira coisa que eu pensei quando vi o ator principal (do qual eu não fazia idéia do nome, naquela época) foi “conheço esse cara de algum filme”. Tentei lembrar durante alguns dias e, não sendo capaz, recorri ao IMDB, para descobrir que ele é Charlie Cox, e o lugar de onde eu lembrava dele é Stardust, um filme fantástico que também tem a Michelle Pfeiffer, o Robert de Niro e de quebra a narração de Ian McKellen – só por aí já dá pra ver que foi uma baita produção, né? Uma pena que tenha sido um absoluto fracasso de bilheteria, não chegando nem a se pagar.

O motivo pelo qual eu não lembrava dele em Stardust é que lá ele não marcou, nem chamou atenção (também pudera, dividindo cenas com um elenco daqueles, né), apesar de ser o personagem principal lá também. E olhando a filmografia dele, não tem lá muita coisa relevante no cinema; os highlights são dois filmes que eu assisti há muito tempo e lembro de ter gostado muito (Casanova, de 2005, e O Mercador de Veneza, de 2004), mas tampouco lembro qual foi o papel de Charlie nesses.

Mas essa indiferença ao coitado Charlie mudou nesses últimos meses acompanhando sua interpretação como Matt Murdock, o advogado cego que à noite assume a identidade do vigilante vermelho que tenta proteger Hell’s Kitchen, um bairro da ilha de Manhattan, na cidade de Nova York. Charlie Cox demonstrou uma atuação bem competente diante da necessidade de demonstrar um personagem com conflitos reais e sérios. Obviamente o roteiro e a edição ajudam bastante, mas a maior parte do mérito pertence ao ator londrino.

Deborah Ann Woll como Karen Page – Deborah é uma das poucas, dentre o elenco principal, que nasceu em Nova York (embora a personagem em si venha de Fagan Corners, no estado americano de Vermont). Karen é uma das personagens com mais conflitos internos na série, o que na segunda temporada fará com que ela seja a pessoa mais apta a entender os conflitos de Frank Castle, o Justiceiro. Dos interesses amorosos de Matt, é a primeira a ser apresentada na série.

Elden Henson como Franklin “Foggy” Nelson – Na série, ele é o clássico “alívio cômico” (o único, por sinal, pois de resto o clima é bem sério). Além disso, Henson é mais um daqueles rostos que você sabe já ter visto, mas não lembra de onde. Uma boa parte das pessoas deve lembrar imediatamente de Jogos Vorazes, mas como eu não vi o segundo filme da franquia, não é daí que eu lembrava, pelo menos. E olhando a lista de trabalhos dele, o que mais me chamou atenção foi Efeito Borboleta, um sucesso comercial de 2004, no qual ele interpreta Lenny, o vizinho e amigo envolvido das ídas e voltas no tempo do personagem principal.

Vincent D’Onofrio como Fisk, o Rei do Crime – A humanização de vilões tem sido uma tendência cada vez maior, e está muito presente na construção do personagem Wilson Fisk. Mais uma atuação super competente, para o papel que eu considero mais complexo na série. Ah, e o ator também é natural de Nova York, o que certamente contribui muito para a atuação, pois a série deixa claro várias vezes como o vilão tem uma ligação visceral com a cidade, especialmente com o bairro de Hell’s Kitchen. E você lembra de tê-lo visto em grandes produções? É, a princípio nem eu, mas você com certeza já o viu: ele era Edgar, o fazendeiro que tem o corpo possuído pela baratona alienígena no primeiro filme da franquia Homens de Preto.

Rosario Dawson como Claire Temple – A personagem tem aparições ocasionais em um ou outro episódio, sendo um dos três interesses amorosos de Matt apresentados até agora na trama. Muitos podem não reconhecê-la de outros trabalhos, pois também não é lá muito conhecida, mas eu imediatamente lembro de Rent, meu musical favorito e uma das muitas adaptações da Broadway para o cinema.

Elodie Yung como Elektra Natchios – Se você, como eu, nunca não acompanha quadrinhos e nunca leu nada da Elektra, talvez seu primeiro contato com a personagem tenha sido no filme de 2003, no qual ela foi interpretada por Jennifer Garner, e talvez você também tenha cansado de ouvir dos seus amigos quadrinheiros que aquela coisa não tem p*** nenhuma a ver com a Elektra dos quadrinhos, na aparência ou no comportamento. Mas aquela foi a primeira imagem, de forma que a visão dessa nova Elektra chocou num primeiro momento, mas foi muito bem recebida no segundo, principalmente porque a personagem representa talvez a maior fraqueza do herói, seu terceiro interesse amoroso na série e uma tentação para o seu lado mais egoísta, e esse conflito é especialmente importante na segunda temporada. Ainda assim, a atuação de Yung é apenas ok, não impressiona.

E finalmente, Jon Berntal como Frank Castle, o Justiceiro (Punisher, em inglês). Vamos combinar que não é um papel muito difícil de se interpretar, mas a opção dos produtores pelo ator foi precisa para o conceito do personagem, graças à imagem de pragmatismo violento que formamos de Jon ao vê-lo como Shane, em The Walking Dead. Além disso, um dos diálogos mais marcantes da série, sobre justiça e punição, acontece entre o Demolidor e o Justiceiro na segunda temporada, e reflete uma discussão da vida real, que é a da pena de morte. Vale a pena ver os argumentos dos dois lados na visão desses dois excelentes personagens.

Sobre o roteiro

É instigante. Não é óbvio ou simplista e principalmente: inova em relação aos quadrinhos, ao mesmo tempo que é fiel à conceituação dos personagens. Mesmo para os fãs da mídia original, há elementos novos que não estão nos quadrinhos.

Obviamente as histórias das duas temporadas não foram pensadas como uma série semanal, e sim como dois grandes filmes, o primeiro dividido em 10 e o segundo em 13 capítulos de uma hora. E isso funcionou muito bem para a série, especialmente para os cada vez mais numerosos maratonistas de Netflix. No meu caso, depois que a segunda temporada estreou, assisti a um episódio por dia durante quase duas semanas, justamente porque a série é tão boa que eu não queria que acabasse rápido, hehehe…

A minha única crítica nesse ponto é que de vez em quando detalhes muito importantes se misturam em meio à ação e você acaba esquecendo deles. Em muitos momentos da trama faltou aquele recurso narrativo básico de relembrar o espectador sobre fatos acontecimentos importantes que foram mostrados em episódios anteriores, ou até na temporada anterior. O roteiro simplesmente assume que, se uma informação já foi mostrada, você deve lembrar dela, e sabemos que não é assim que acontece.

Sobre as cenas de luta

Impressionantemente bem feitas. Sério, botam no chinelo algumas grandes produções hollywoodianas (aliás, isso tá virando especialidade do Netflix, né?). O coordenador de lutas e de dublês Philip J. Silvera, é também responsável pelas sequências de luta de filmes como Deadpool e Thor: O Mundo Sombrio, além de ter participações como dublê ou coordenador em uma infinidade de outros filmes, séries e games.

Fotos postadas no Twiter de Philip J. Silvera, o coordenador de lutas e dublês da série

Sabe aqueles filmes ou séries em que o diretor usa o recurso sem vergonha de fazer um corte a cada golpe para facilitar a vida dos atores? Esqueça. Em Demolidor, durante a maior parte do tempo, as cenas de luta são feitas com poucos ou até nenhum corte, o que deixa a experiência de assistir muito mais intensa.

Resumo da ópera

Vale muito a pena, mesmo pra quem (como eu) não manja bulhufas de HQ’s. Em termos de produções cinematográficas de super heróis, é uma das melhores coisas já produzidas, ficando pau a pau com a minha produção favorita em termos de filmes de super heróis, que é a trilogia do Batman feita pelo Nolan.

Quer saber mais das opiniões do Justiça Geek sobre a série Demolidor? Ouça a edição desta semana do nosso podcast, o Tribunal Geek, que deve ir ao ar nos próximos dias. Nesta edição, que é a terceira de nosso cast, falamos exclusivamente da série (com spoilers), com a participação de dois quadrinheiros (Lucas Felipe e Ricardo) e dois leigos em quadrinhos (eu e Diego), todos redatores aqui do site.

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Rafael Esteque

Advogado por formação, narrador por paixão, redator por vocação e músico por opção. Minhas anteninhas de vinil nunca funcionam. No 50º dia do meu nome, só espero que Gandalf me chame para uma aventura. Citação favorita: "In the game of thrones, a wizard is never late." Não, pera... ahn... "Do or do not. There is no Hakuna Matata." Não... ahn... Ok, vocês entenderam.