Jun – Respeitando as diferenças!

Mesmo após tanto tempo de estudo e explicações, as pessoas acometidas pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA) continuam a sofrer grande preconceito apenas por serem diferentes. Existem vozes que procuram brigar pelo direito dessas pessoas e lutam para combater esse preconceito e demonstrar como o respeito às diferenças é essencial para a convivência em sociedade. Foi com esse intuito que a quadrinista coreana Keum Suk Gendry-Kim produziu Jun, quadrinho publicado por aqui pela editora Pipoca e Nanquim e que demonstra com sensibilidade ímpar os desafios enfrentados por um talentoso músico autista e sua família.

Jun Choi é um garoto autista de coração puro, que alcançou fama na Coreia do Sul após descobrir sua vocação natural para a música. Ao conhecê-lo em 2010 durante aulas de música tradicional coreana, Gendry-Kim ficou fascinada e resolveu contar a história do jovem, marcada por solidão e preconceitos, mas também por muita beleza e superação. Para isso, a autora utiliza a visão da irmã de Jun para relatar os desafios enfrentados por ele e sua família.

Em seus trabalhos anteriores publicados por aqui, os excepcionais Grama e A Espera, a autora sul-coreana já havia demonstrado toda a sensibilidade que possui ao apresentar situações fortes, no caso, relacionadas à Guerra da Coréia. Em Jun, essas situações também se apresentam, mas na forma dos conflitos pelos quais o protagonista passa, envolvendo a forma diferente com a qual ele enfrenta o mundo. É impossível não se emocionar em certas páginas, seja pela tristeza que o preconceito causa e a forma com a qual a família de Jun tem que lidar com isso, ou pela felicidade que momentos de superação proporcionam, com a família percebendo tudo que Jun pode fazer e seu imenso talento com a música.

A arte de Keum Suk Gendry-Kim complementa a sensibilidade presente em seu roteiro, com um traço simples e com belas metáforas visuais que ajudam a entender como Jun enxerga o mundo. As cenas nas quais a autora mostra a relação entre o protagonista e a música são belíssimas e tocam o leitor de forma muito poderosa. Também merece destaque o trabalho de expressões nos rostos que a autora apresenta, é possível saber como o personagem está se sentindo sem sequer ler os diálogos, alternando de forma muito hábil entre os momentos de humor e drama.

A publicação da Pipoca e Nanquim possui capa dura, sobrecapa, papel offset e extras que envolvem bons textos que complementam a obra: uma introdução escrita por Chang Jae-Hyo, diretor musical e produtor de espetáculos, sobre o talento musical de Jun e o quanto ele aprendeu com o jovem pianista, e um posfácio da própria autora no qual ela relata como foi sua experiência ao conhecer Jun. Editorialmente, o trabalho da editora se mantém muito competente, principalmente quanto à tradução e revisão, mas com relação ao trabalho gráfico há uma crítica que deve ser destacada no que se refere à gramatura do papel. As páginas são muito transparentes, o que prejudica um pouco a leitura e o trabalho de nanquim da autora, algo que com certeza está relacionado à crise do papel pelo qual o mercado de quadrinhos brasileiros passa, mas que deveria ao menos ter sido esclarecido perante ao público.

Keum Suk Gendry-Kim é uma bem-vinda descoberta para o mercado brasileiro de quadrinhos, uma autora talentosa que retrata temas importantes de forma muito sensível. Jun é mais um exemplo disso é uma ótima oportunidade para aprendizado e respeito às diferenças. Estou ansioso para sua próxima publicação por aqui, já que ela nunca decepciona.

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Ficha técnica

Editora: Pipoca e Nanquim
Tradução: Yun Jung Im
Ano de lançamento: 2022
Páginas: 260
Preço: R$74,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.