Prisioneiro dos Sonhos Vol. 2: O Processo – Mathieu quebrando paradigmas!

O talento de Marc-Antoine Mathieu já pode ser atestado pelos leitores brasileiros através da publicação de obras como Deus Em Pessoa e o primeiro volume da série Prisioneiro dos Sonhos, que possui o subtítulo de A Origem. No segundo volume dessa série, que possui o subtítulo de O Processo, o autor francês faz uma nova demonstração de suas habilidades narrativas, brincando com diversos recursos dos quadrinhos, incluindo até mesmo aspectos físicos da publicação.

Em A Origem acompanhamos mais uma história protagonizada por Julius Corentin Acquefacques, que, após seu relógio de parede ficar acidentalmente adiantado, mergulha em um novo turbilhão de aventuras kafkianas: perdido em seu sonho, ele se torna um viajante em sua própria história, aprisionado em uma terceira dimensão e enxergando a passagem de tempo de forma diferente.

É com essa premissa no mínimo curiosa que Mathieu faz um interessante experimento sobre como o tempo funciona nos quadrinhos, apresentando uma história que ao explorar diversos dos recursos disponíveis nessa mídia acaba se tornando um ciclo sem fim. É impressionante como o artista se utiliza até mesmo de aspectos físicos dos quadrinhos para incrementar a trama, provocando uma interação entre leitor e obra que somente autores habilidosos conseguem prover, além de brincar com a mistura entre desenho e fotografia (criadas por Jean-François Rabillon) para criar um contraste entre as dimensões que o protagonista da obra transita.

Além desses elementos narrativos e exploração dos recursos dos quadrinhos, também é importante notar os conceitos que Mathieu explora em seu roteiro, com muita influência da ficção científica, lembrando as obras de Philip K. Dick, apresentando uma sociedade distópica que possui coisas como um tratamento médico que envolve a manipulação do sonho das pessoas e um meio de transporte que consiste em bicicletas que andam sobre fios que ficam suspensos acima da cidade.São coisas que causam certo estranhamento nas primeiras páginas, mas que propiciam algumas interessantes críticas sociais ao longo da leitura. É visível todo o cuidado e primor que o autor tem ao conceber cada página.

A publicação da Comix Zone possui capa dura, papel couché de alta gramatura, sem extras. Reitero os elogios que fiz à editora no texto sobre o primeiro volume, já que a publicação exige muito cuidado devido às explorações gráficas feitas pelo autor e tudo foi feito de forma muito primorosa, tanto em questão editorial envolvendo tradução e revisão, quanto no aspecto gráfico em si. Espero que a aposta dê certo e que as vendas correspondam às expectativas, já que espero ver a série totalmente publicada por aqui (até o momento, já foram publicados sete álbuns na Europa).

Prisioneiro dos Sonhos Vol. 2: O Processo é um experimento narrativo que demonstra mais uma vez todo o talento de Marc-Antoine Mathieu. É importante destacar que embora seja uma série, a ordem de leitura é irrelevante, de forma que você pode começar a ler por esse volume mesmo. De toda forma, recomendo que leia os dois volumes publicados até o momento, garanto que a experiência propiciada por essas obras raramente pode ser encontrada em outros quadrinhos. Uma das melhores séries em publicação no Brasil, sem sombra de dúvidas.

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Ficha técnica

Editora: Comix Zone
Tradução: Fernando Paz
Ano de lançamento: 2022
Páginas: 48
Preço: R$72,50

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.