Escuta, Formosa Márcia – O Brasil pelos olhos de Marcello Quintanilha!

Poucos autores conseguem contar histórias com forte aspecto humano como Marcello Quintanilha. O autor brasileiro sabe como capturar a essência de vários personagens espalhados por nosso país em tramas que prendem o leitor pelo realismo e a identificação com nosso dia a dia. Escuta, Formosa Márcia, seu mais recente trabalho, é mais um exemplo do talento de Quintanilha.

Nesse quadrinho, acompanhamos a história de Márcia, enfermeira, mãe solteira, nascida e criada em uma comunidade uma comunidade do Estado do Rio, que vem travando uma verdadeira batalha doméstica para disciplinar sua filha, a insubordinada Jaqueline. Apesar do auxílio de seu companheiro Aluísio, padrasto da garota, tudo parece inútil: Jaqueline não aceita se submeter a nada que a impeça de sair por aí e fazer o que quiser, sem dar satisfações a ninguém. Mãe solteira, nascida e criada em uma comunidade uma comunidade do Estado do Rio, a enfermeira Márcia vem travando uma verdadeira batalha doméstica para disciplinar sua filha, a insubordinada Jaqueline. Apesar do auxílio de seu companheiro Aluísio, padrasto da garota, tudo parece inútil: Jaqueline não aceita se submeter a nada que a impeça de sair por aí e fazer o que quiser, sem dar satisfações a ninguém. Porém, quando a jovem se vê envolvida até o pescoço com o crime organizado, Márcia estará disposta a chegar às últimas consequências para livrá-la dessa enrascada. Quer Jaqueline queira, quer não.

Marcello Quintanilha vem de uma excelente série de trabalhos, que envolve títulos como Tungstênio, Talco de Vidro, Hinário Nacional e Luzes de Niterói. Em Escuta, Formosa Márcia, o autor consegue apresentar uma trama que se parece muito com o que vemos em filmes, noticiários de tv, ou mesmo em nosso dia a dia, a força de uma mulher periférica que tenta dar uma vida melhor para sua família tendo que passar pelas mais difíceis situações, permeada por sentimentos como medo, vingança e, principalmente, amor.

O autor brilha em demonstrar que é um grande contador de histórias ao apresentar um realismo sensível, ao passo em que insere pitadas de surrealismo para representar situações em que isso representa perfeitamente o que os personagens estão sentindo. Aliás, os personagens são ótimos, cada um tem sua voz própria e os diálogos de Quintanilha são perfeitos ao representar as mais diversas formas de falar, o que aproxima ainda mais o leitor da história. Ele é um dos autores que melhor faz isso.

É importante destacar também que a história não esconde em nenhum momento seu aspecto político, demonstrando como a corrupção do poder público impacta diretamente os mais pobres, fazendo com que eles fiquem sujeitos a atender o desejo de uma espécie de poder paralelo para que sobrevivam. Se você acompanhou o que aconteceu no Rio de Janeiro nos últimos anos, inclusive o que gerou a ascensão da figura desprezível que ocupa a presidência da república, com certeza saberá sobre o que Marcello Quintanilha está falando.

A arte de Quintanilha é tão boa quanto o roteiro, é impressionante a capacidade que ele tem de apresentar rostos diferentes, roupas com detalhes e arquétipos de pessoas que você com certeza já deve ter conhecido. Além disso, o autor tem um completo controle da condução da narrativa, sabendo como controlar o tempo como poucos autores sabem e explorando diversos estilos de se fazer quadrinhos, incorporando até mesmo algumas coisas que vemos nos quadrinhos japoneses em alguns quadros

O uso de cores na obra causa um certo estranhamento (por exemplo, pessoas negras são representadas na cor roxa, pessoas brancas na cor verde e todo o ambiente tem cores gritantes), já que gera um certo contraste com o aspecto realista da história, mas segundo uma entrevista concedida por Quintanilha para o jornalista Ramon Vitral, essa escolha foi proposital já que o autor desenvolveu uma paleta de 28 cores que “se alternam diegeticamente em calidez, frieza e acidez, sem, no entanto, corresponder a seu equivalente no mundo tangível, porque pretendia espelhar a progressiva desconexão com a realidade tão característica dos dias atuais”. Ele acertou em cheio em seu objetivo.

A edição da Veneta tem capa dura, papel couché de alta gramatura e não possui extras. O trabalho da editora é muito competente não só no aspecto editorial, mas também, como costumo ressaltar diversas vezes, na curadoria dos títulos. Fique de olho no catálogo da editora comandada por Rogério de Campos, o melhor editor em atividade no Brasil na minha opinião, e eu garanto que você vai encontrar algo que goste.

Escuta, Formosa Márcia é um dos melhores quadrinhos lançados em 2021, não só no Brasil, como no mundo, e vem forte na disputa de diversas premiações (como a organizada pelo prestigiado Festival de Angoulême). Marcello Quintanilha acertou de novo e solidifica ainda mais seu nome entre os melhores autores da atualidade.

P.S.: Leia a entrevistada feita pelo jornalista Ramon Vitral que está linkada no texto, é um bom complemento para a obra e ajuda a entender as influências e ideias que Marcello Quintanilha teve para escrever essa história.

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Ficha técnica

Editora: Veneta
Ano de lançamento: 2021
Páginas: 128
Preço: R$99,90

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.