Top 15 quadrinhos lidos em 2019

Mais um ano vai chegando ao fim e, além das festividades, é hora da tradicional lista de melhores quadrinhos lidos no ano aqui no Justiça Geek. Como fiz nos últimos anos, selecionei 15 quadrinhos (e mais algumas menções honrosas) para serem elencados na lista, que não está organizada em ordem de preferência e não necessariamente contém quadrinhos lançados este ano. Todos os reviews ou recomendações dos quadrinhos em questão estarão linkadas ao longo do texto, que será atualizado conforme novas resenhas forem sendo publicadas. Sem mais explicações, vamos à lista!

Marshawl Law –  Pat Mills e Kevin O’Neill

A revolução que ocorreu no mercado de quadrinhos norte-americano durante os anos 80 teve muita influência da chegada dos autores britânicos neste mercado. Nomes como Alan Moore, Neil Gaiman, Jamie Delano, Garth Ennis, Warren Ellis, entre outros, trouxeram ideias que extrapolavam muito o que era feito na época. E é claro que Pat Miils é um desses autores que revolucionou o mercado, ainda que não seja muito lembrado.

Mills é uma verdadeira lenda, tendo sido um dos criadores da 2000AD (revista na qual personagens como Juiz Dredd e Sláine foram criados) e revelado muitos desses autores que se tornaram famosos. Em Marshaw Law, ao lado do talentoso desenhista Kevin O’Neill, ele explora a desconstrução do gênero de super-heróis (que estava em voga nos anos 80) de uma maneira um pouco diferente do que era feito por seus contemporâneos.

Marshaw Law é um caçador de heróis, embora ele afirme que nunca encontrou nenhum. Durante uma série de histórias, integralmente publicadas na versão definitiva da editora Panini, ele enfrentará diversas paródias de super-heróis conhecidos em meio a um futuro distópico.

Mills não economiza na violência e humor negro, tudo é muito extremo e aí está a muito bem sacada crítica ao gênero, que pode parecer um pouco batida depois de termos lido tantas histórias do gênero ao longo do tempo, mas que é muito bem escrita por este verdadeiro mestre dos quadrinhos, que deveria ter mais reconhecimento por parte do público. Indispensável na coleção de qualquer apreciador de boas histórias em quadrinhos.

Gatilho – Carlos Estefan e Pedro Mauro

Gatilho tem sido o quadrinho de maior sucesso da CCXP dos últimos anos, se esgotando ainda nos primeiros dias do evento. E não é pra menos, já que a incrível história escrita por Carlos Estefan e ilustrada por Pedro Mauro é uma bela homenagem aos clássicos filmes de faroeste, muitos deles protagonizados por Clint Eastwood e dirigidos por Sergio Leone.

O quadrinho tem uma premissa bem simples. Em Gatilho acompanhamos a chegada de um caçador de recompensas em uma cidade, buscando fazer justiça. Mas para obtê-la ele terá que fazer muito mais do que apenas combater os homens que está procurando, ele deverá exorcizar fantasmas de seu passado.

O roteiro de Carlos Estefan é bastante envolvente e a arte de Pedro Mauro é deslumbrante, o cara é um verdadeiro mestre dos quadrinhos. O quadrinho gerou duas continuações, Legado e Redenção, que já estão em minha pilha de leitura. O único porém é que os quadrinhos são um pouco difíceis de serem adquiridos, mas garanto que vale a pena. Um verdadeiro prato cheio para fãs de faroeste.

Confira nossa Recomendação da Semana sobre Gatilho!

Aurora nas Sombras – Fabien Vehlmann e Kerascoët

Um dos quadrinhos mais belamente ilustrados e ao mesmo tempo um dos mais assustadores publicados este ano, Aurora nas Sombras é uma curiosa mistura entre fábulas infantis e o terror, ainda que, para aqueles que conhecem a origem das fábulas, essa mistura pode não parecer tão estranha.

O quadrinho conta a história de Aurora, uma garotinha que segue o clássico arquétipo de princesa de contos de fada que quer conquistar seu príncipe encantado. Durante um tranquilo chá da tarde com seu amado, uma gosma começa a cair do telhado de sua casa e acaba por destruí-la, forçando Aurora e as outras criaturas que ali vivem a fugirem. Quando os personagens conseguem fugir, em meio a uma forte chuva, o leitor descobre o que eles habitavam: o corpo de uma garota morta.

O traço fofinho e as grotescas situações apresentadas ao longo da história provocam uma certa dicotomia que prende o leitor na história, deixando-o apreensivo pelos próximos acontecimentos. Se você está procurando uma leitura que foge bastante do comum, esse quadrinho com certeza deve figurar na sua lista de prioridades.

Confira nossa Recomendação da Semana sobre Aurora nas Sombras!

Marcha Para a Morte – Shigeru Mizuki

Há algumas coisas inexplicáveis no mercado editorial brasileiros e uma delas era o fato de Shigeru Mizuki, um verdadeiro mestre dos mangás, autor multipremiado que iniciou a carreira ainda nos anos 50, nunca tinha sido publicado por aqui. Felizmente a editora Devir preencheu essa lacuna publicando alguns de seus trabalhos por aqui, como o excelente Marcha Para a Morte.

Qualquer um que tenha estudado o mínimo de história sabe quais foram as proporções da Segunda Guerra Mundial e suas principais consequências, entre elas o bombardeio atômico feito pelos EUA contra o Japão. Marcha Para a Morte narra a história de uma companhia da infantaria japonesa durante a guerra, mostrando todos os percalços enfrentados por ela, como a morte de soldados de forma bastante inesperada, a infestação de doenças, a rigidez dos oficiais para com os soldados e o desespero desses em reencontrar as pessoas que amam. Tudo isso culminando em uma ordem superior que será difícil de cumprir.

Shigeru Mizuki é muito hábil em mostrar todos os terrores da guerra ao mesmo tempo que constrói muito bem o relacionamento entre os personagens, utilizando humor de forma bastante precisa no contraste de cenas bastante chocantes e tristes. É impressionante a forma como ele alterna um traço mais cartunesco com um bastante realista para mostrar os distintos momentos da guerra.

Marcha Para a Morte é um retrato preciso das consequências da guerra, onde não há vencedores nem glória, apenas pessoas levadas ao desespero, que muitas vezes não sabem pelo o que estão lutando. Um dos grandes exemplares do gênero sem dúvida alguma e uma das melhores leituras que já fiz.

Confira nossa Recomendação da Semana sobre Marcha Para a Morte!

Bone – Jeff Smith

Você já pensou sobre o que sairia de uma mistura entre as histórias escritas por Carl Barks na Disney com um verdadeiro épico como Senhor dos Anéis? Não? Felizmente Jeff Smith, um dos quadrinistas mais excepcionais dos últimos 30 anos, pensou e produziu a fantástica série Bone.

O quadrinho conta a história de três primos, Fone Bone, Phoney Bone e Smiley Bone, que foram expulsos de sua cidade natal, Boneville. Eles então partem em uma jornada para encontrar uma nova moradia, acabam sendo separados e a partir desse momento acompanhamos a busca de Fone Bone por seus primos, na qual ele encontrará a jovem Espinho e sua avó, a vovó Ben, e se envolverá em uma trama muito mais abrangente do que sua mente pode conceber.

Smith começa a história de forma despretensiosa, mas vai gradualmente expandindo o escopo, ao passo que no decorrer do tempo você estará imerso em uma história de fantasia digna dos maiores escritores do gênero. A editora Todavia finalizou a publicação da série, vencedora de dez prêmios Eisners, este ano, então os leitores brasileiros finalmente poderão ler a conclusão da saga que estava inédita por aqui. Eu mesmo estou ansioso para ler os volumes 2 e 3, definitivamente é um quadrinho para todas as idades.

Confira nosso review do primeiro volume de Bone!

Sláine – O Deus Guerreiro –  Pat Mills e Simon Bisley

Pat Mills aparece mais uma vez na lista, dessa vez com uma excepcional história de Espada e Feitiçaria. Em O Deus Guerreiro acompanhamos a jornada de Sláine tentando unificar os reinos de Tir-Nan-Og para, utilizando as armas místicas desses reinos, enfrentar uma guerra contra o Lorde Slough Feg, o antigo Deus Guerreiro que deseja trazer morte e destruição ao mundo. A história, repleta de violência e certas doses de erotismo e reflexão, é narrada no futuro pelo anão Ukko, que foi companheiro de batalha de Sláine, mas que guarda certa mágoa do guerreiro celta.

Tudo neste quadrinho é incrível, desde o roteiro de Mills que explora de maneira bastante aprofundada a mitologia Celta, até a belíssima arte pintada de Bisley. Espero que tenhamos mais lançamentos de Sláne por aqui, com certeza é um personagem que merece mais reconhecimento por aqui.

Confira nossa Recomendação da Semana sobre Sláine – O Deus Guerreiro!

Eu Matei Adolf Hitler – Jason

Jason é um verdadeiro gigante dos quadrinhos. Desde que conheci seu trabalho com o fantástico Sshhhh! fiquei fascinado pela capacidade narrativa deste norueguês. Em Eu Matei Adolf Hitler, o autor propõe uma história muito curiosa: em um mundo onde ser um assassino de aluguel é uma profissão tão legitima e corriqueira quanto ser médico ou advogado, um cientista contrata um desses assassinos para viajar no tempo e matar Adolf Hitler antes de sua maligna ascensão ao poder. Parece loucura né? Mas não se preocupe, Jason torna isso coerente por mais incrível que pareça.

O artista utiliza diálogos de forma pontual durante a história, já que o foco está mesmo em sua narrativa e arte. Com forte influência da linha clara de Hergé (criador do Tintin), Jason utiliza desenhos simples, porém bastante fluídos, para contar a história que é repleta de reflexões, momentos de humor bastante sarcástico e pitadas de ficção científica. Não é à toa que ele já recebeu diversos prêmios, entre eles os renomados Eisner e Harvey.

Eu Matei Adolf Hitler é um ótimo quadrinho que parte de uma premissa que foge do comum, divertindo o leitor ao mesmo tempo que proporciona algumas reflexões. Sensacional!

Confira nossa Recomendação da Semana sobre Eu Matei Adolf Hitler!

O Homem sem Talento – Yoshiharu Tsuge

Mais uma lacuna do mercado nacional de quadrinhos foi preenchida com a publicação do trabalho mais aclamado de Yoshiharu Tsuge, O Homem sem Talento. Tsuge é um verdadeiro gigante do mercado japonês de quadrinhos, tendo sido o criador do gênero Watakushi (“quadrinhos do eu”), como são conhecidos os quadrinhos autobiográficos japoneses.

O protagonista dessa história, que é uma espécie de alter ego do autor, é um autor de mangá que se recusa a ceder às imposições da indústria e macular sua arte, abandonando sua carreira para se tornar um vendedor de pedras que ele encontra no rio perto de sua casa. Pedras estas que ninguém parece ter o interesse em adquirir.

Ao mostrar uma trajetória que parece ser uma espécie de ode ao fracasso, Tsuge desenvolve de forma lenta, porém repleta de ironia e um toque de humor, uma história que debate coisas como o papel de cada um na sociedade, qual a função da arte e sobre como o talento pode se manifestar de formas bastante variadas.

O Homem sem Talento é aquela espécie de quadrinho que transforma o leitor ao final da leitura. Se você é fã de histórias mais reflexivas, este é um exemplar que não pode faltar em sua estante.

Condado de Essex – Jeff Lemire

Jeff Lemire é um dos grandes contadores de histórias da indústria de quadrinhos da atualidade. É um autor que consegue ser visceral, mas também sensível quando necessário, emocionando o leitor ao demonstrar laços afetivos com os quais muitos se identificam. Talvez o maior exemplo disso seja Condado de Essex.

Neste quadrinho temos três histórias, cada uma com um morador do condado, que inicialmente não parecem ter qualquer ligação, mas conforme a leitura vai avançando, vamos percebendo que isso não é bem verdade. A primeira história é a de Lester, um garoto que perdeu sua mãe recentemente, teve que ir morar com seu tio e acaba conhecendo um novo amigo. Na segunda história acompanhamos Lou e seu irmão Vince, que foram grandes jogadores de hóquei, mas que por diversas questões da vida acabaram se afastando do esporte e um do outro. Na terceira e última história acompanhamos Anne, uma enfermeira que tenta ajudar a todos na cidade, ainda que ela mesma também precise de ajuda.

Essas podem parecer histórias bem simples, mas a forma como Lemire as narra, colocando um pouco de sua vivência pessoal em cada personagem e aproximando o leitor da história, é que é o grande atrativo desse quadrinho. Por mais que sua arte não seja o que podemos chamar de bela, ele definitivamente é um grande narrador gráfico, com sacadas bastante inteligentes no uso dos quadros e um bom uso de luz e sombra. O cara definitivamente sabe como contar uma história.

Condado de Essex com certeza é um dos trabalhos de maior qualidade escritos por Jeff Lemire. É intimista, tocante e justifica o porquê de o autor ser tão aclamado, tanto que faturou diversos prêmios. Recomendado para todo tipo de leitor, garanto que vale cada centavo investido.

Confira nossa Recomendação da Semana sobre Condado de Essex!

Okko – O Ciclo da Água – Humbert Chabuel

Okko é com certeza uma das séries mais inusitadas publicadas por aqui nos últimos tempos. Misturando samurais, magia e uma temática steampunk, esta série é um prato cheio para leitores que procuram quadrinhos repletos de ação.

Em O Ciclo da Água, acompanhamos a jornada de Okko, um ronin que lidera um grupo de caçadores de demônio, composto por Noburo, um misterioso gigante que esconde seu rosto atrás de uma máscara rubra, e o monge Noshin, um monge que adora saquê e que possui o poder de invocar os espíritos da natureza, através de um território análogo ao Japão, chamado Pajão (muito criativo não é mesmo?). Quando o jovem pescador Tikku tem sua irmã, a Pequena Carpa, sequestrada, ele contrata o grupo para ajudá-lo a resgatá-la.

É muito interessante a forma como Humbert Chabuel consegue mesclar o realismo e o fantástico na história. O sobrenatural é bastante presente na narrativa, mas o roteirista consegue manter os pés no chão em coisas como o código de honra dos samurais ou mesmo nas batalhas. Aliás, é interessante observar a visão do autor, enquanto ocidental, sobre a cultura oriental e histórias do gênero. Divertidíssimo!

Confira nosso review de Okko – O Ciclo da Água

Batman: O Messias – Jim Starlin e Bernie Wrightson

Jim Starlin é um roteirista bastante reconhecido por suas histórias envolvendo personagens cósmicos, tanto na Marvel quanto na DC. Com isso posto, é muito interessante o trabalho que ele fez com o Batman, personagem extremamente urbano, em O Messias.

Neste quadrinho vemos o surgimento do Diácono Blackfire, um líder religioso que está montando um exército composto por indigentes e párias com o objetivo de tomar o controle de Gotham. Seus métodos acabam por instaurar um grande caos na cidade, o qual Batman deve combater mesmo que em certos momentos passe a duvidar de si mesmo e flerte com a loucura ao ser confrontado pelo discurso de Blackfire.

A crítica a religiões é bastante presente no trabalho de Starlin, principalmente em Warlock e Dreadstar, e aqui isso não é muito diferente. Ele trata o tema com bastante profundidade, ao mesmo tempo que também fala sobre ascensão do fascismo e o perigo de certos discursos. E tudo, claro, muito bem acompanhado da arte de Bernie Wrightson, um dos grandes mestres do terror. É impressionante como uma obra originalmente lançada em 1988 continua bastante atual.

Um dos grandes clássicos do homem morcego e um quadrinho indispensável para os tempos em que vivemos.

Confira nossa Recomendação da Semana sobre Batman: O Messias!

Solitário – Cristophe Chabouté

Chabouté é um dos meus quadrinistas favoritos e já virou tradição que algum de seus trabalhos esteja presente em minha lista de melhores leituras. Dessa vez, Solitário é o representante do francês na lista, uma obra singela e sensível que fala sobre descobertas.

A sinopse da obra é relativamente simples, mas bastante intrigante: Em um farol localizado numa ilhota isolada do resto do mundo, um eremita experimenta uma vida rodeada de solidão. Morador do lugar desde que nasceu, há 50 anos, ele nunca viu o mundo exterior e somente o imagina através das palavras que lê em um dicionário. Eis que um marinheiro novato começa a trabalhar no barco que leva provisões toda a semana ao Solitário e começa a se questionar quem é este homem e por que ele se esconde no farol. Com base nessa curiosidade, uma pequena atitude será a responsável por iniciar uma série de eventos que mudarão a vida de Solitário para sempre.

Chabouté é hábil em construir um roteiro que vai crescendo aos poucos, apresentando a vida de solitário e sua conformidade com a situação, mas a cada virada de página o personagem vai se questionando e querendo conhecer o mundo que existe fora de seu farol. Desde palavras aleatórias de um dicionário, que casam de maneira muito interessante à trama, até um conjunto de fotos, tudo isso vai instigando Solitário. E são necessários poucos diálogos para que o artista desenvolva os personagens e conduza a trama.

Solitário é uma obra sensível e cativante, um exemplo de como Chabouté consegue transformar premissas simples em verdadeiras obras-primas. Um quadrinho para ler e contemplar.

Confira nosso review de Solitário!

Crônicas de Excalibur Vol.1 – Jean-Luc Istin e Alain Brion

É impossível que você nunca tenha ouvido falar de Artur Pendragon, aquele que se tornou rei da Inglaterra ao retirar a espada Excalibur de uma pedra e liderou diversas vitórias contra inimigos do reino. A versão de sua história contada em Crônicas de Excalibur, escrita por Jean-Luc Istin e desenhada por Alain Brion, traz uma nova perspectiva ao mito arturiano.

Em Crônicas de Excalibur acompanhamos a história da lendária espada sob a perspectiva do mago Merlin. Ao ter uma visão, Merlin decide entregar Excalibur para Uther Pendragon, que se tornará pai de Artur, pois acredita que este será o rei responsável por unir os reinos bretões contra os invasores. Em contrapartida, há uma forte ascensão da igreja, que utiliza a fé para manipular governantes e inflamá-los contra as antigas tradições e os moradores de Avalon.

Com um roteiro muito bem estruturado e uma arte que é um verdadeiro deleite para os olhos, este quadrinho é uma das melhores obras de fantasia lançadas por aqui nos últimos anos. Ótimo acerto da editora Mythos com seu selo Gold Edition. Estou ansioso pela conclusão da obra, que foi prometida pela editora para 2020.

Confira nosso review de Crônicas de Excalibur Vol.1!

Três Buracos – Shiko

Shiko é sem sombra de dúvidas um dos melhores quadrinistas em atividade no cenário nacional. Ele sabe contar histórias de diversas formas, sempre com um desenho estonteante e uma narrativa bastante apurada, além de roteiros muito inteligente repletos de críticas sociais. Três Buracos é mais um exemplo do talento deste verdadeiro gênio.

Neste quadrinho acompanhamos a história de Tânia e seu irmão, Canhoto, que cresceram entre o garimpo, o puteiro e o cemitério e é daí que vem o nome do lugar: Três Buracos. Ao cavar a cova de um enforcado, Delegado, o pai dos dois protagonistas, encontra uma Turmalina que acaba trazendo desgraça pra ele e sua família. Anos depois, Tânia, sua companheira Cleonice e Canhoto se unem para executar um plano que os libertará de todas as desgraças de sua vida, lhes dando riqueza e redenção. Porém, a morte sempre ronda a todos que vivem em Três Buracos e eles terão que confrontar esta verdade.

Shiko já começa acertando na ambientação do quadrinho, fazendo com que Três Buracos seja uma cidadezinha localizada em algum lugar do Nordeste brasileiro. O clima árido e quente do Sertão remete diretamente aos grandes clássicos do western Spaghetti, fazendo com que a história seja uma espécie de faroeste brasileiro. A cidade é sem sombra de dúvidas um personagem importantíssimo para a história moldando todos seus habitantes a serem o que são.

Três Buracos é um quadrinho que deve ser lido por qualquer pessoa que tenha apreço pela mídia. É inteligente, é bem escrito e belamente desenhado, uma verdadeira obra-prima. O que será que Shiko está pensando para seu trabalho? Eu não faço ideia, mas com certeza estou empolgado para ler.

Confira nosso review de Três Buracos!

O Preço da Desonra: Kubidai Hikiukenin – Hiroshi Hirata

Eu sei que disse no começo deste texto que os quadrinhos não estavam em ordem de preferência, mas tenho que admitir que O Preço da Desonra: Kubidai Hikiukenin foi a minha leitura favorita deste ano. É meio inexplicável que Hiroshi Hirata, um dos mais renomados autores de Gekigás (mangás adultos) do gênero Jidaigeki (dramas históricos que se passam no Japão feudal), tenha demorado tanto para ser publicado por aqui, sendo que publica desde os anos 50. Felizmente este foi mais um resgate acertado feito pela editora Pipoca e Nanquim.

Neste sensacional quadrinho, Hirota conta a história dos Kubidai Hikiukenin, Bushis (guerreiros honrados que seguiam o caminho da espada) que tinham a missão de cobrar promissórias de guerra. Essas promissórias eram comuns em períodos de guerra, nas quais soldados derrotados pagavam por suas vidas prometendo quantias de dinheiro, muitas vezes absurdas, aos vencedores através de um documento assinado com seu próprio sangue. Eu nunca tinha ouvido falar sobre esse tipo de promissória e foi muito interessante aprender sobre esse pedaço da história do Japão.

O mangá é protagonizado por Hanshiro, um hábil guerreiro que exerce a profissão de Kubidai Hikiukenin. Durante nove contos, ele confrontará diversas situações nas quais somente sua habilidade com a espada não será suficiente para cobrar as dívidas que seus contratantes têm para receber. E são nessas situações que Hirata demonstra toda a inteligência, estratégia e habilidade social que um guerreiro desse tipo deveria ter nesta época.

É notável o profundo trabalho de pesquisa que Hirata fez para produzir essa obra, o que justifica os longos hiatos entre um trabalho e outro. Esse cara é um mestre dos quadrinhos que merece mais reconhecimento por aqui, espero que mais obras suas sejam publicadas em nosso país. Com o sucesso anunciado pela editora Pipoca e Nanquim, essas publicações são apenas questão de tempo.

Menções Honrosas

Preciso citar algumas HQs que por razões que não consigo explicar ficaram de fora da lista principal rs. Todas também apresentam alto nível de qualidade.

Mesmo Delivery – Rafael Grampá

Uma espécie de experimento narrativo com bastante influência de Quentin Tarantino. Com este relançamento, Grampá nos lembra de o porquê ter sido considerado um verdadeiro fenômeno do cenário nacional, recebendo elogios tanto de artistas nacionais quanto de grandes nomes internacionais. Fico feliz que ele tenha voltado aos quadrinhos e esteja prometendo vários trabalhos para os próximos anos. Estou ansioso para suas próximas publicações,

Justiceiro – Garth Ennis e diversos artistas

O melhor trabalho já feito por Garth Ennis, essa série não é sobre um ex-fuzileiro que assassina criminosos, mas sim uma análise da sociedade dos EUA pós 11 de setembro. Uma das melhores coisas já publicadas pela Marvel e indispensável para qualquer um que ama ler quadrinhos.

Confira nossos reviews de No Princípio e Mãe Rússia!

Y – O Último Homem – Brian K. Vaughan e Piá Guerra

Uma das séries mais inteligentes já publicadas pela Vertigo e uma das obras sobre distopias mais legais que eu já li. Com diversas críticas sociais bastante contundentes, este é um quadrinho que merece sempre ser lido e relido para que reflitamos sobre nós mesmos e sobre o mundo que nos cerca.

Confira nossos reviews de Y – O Último Homem!

Liga da Justiça Internacional – J. M. Dematteis, Keith Giffen e Kevin Maguire

Um verdadeiro sitcom com super-heróis. Esta é uma das séries mais divertidas já publicadas pela DC, a união de personagens não muito conhecidos (com exceção do Batman), situações cômicas e aventuras muito bem escritas, com um competente desenvolvimento de personagens e ótimos diálogos, foram os ingredientes para o sucesso da série. Ah, é claro, nada disso teria a mesma graça se não fosse o sensacional trabalho de Maguire nas expressões dos personagens. Foi um grande acerto da Panini republicar esta série.

Slam Dunk – Takehiko Inoue

Um dos meus mangás favoritos, Slam Dunk é uma das poucas obras que realmente me faz rir durante a leitura. Personagens carismáticos, humor bastante preciso, jogos de basquete emocionantes e uma narrativa espetacular são os pontos altos deste trabalho de Takehiko Inoue. O sucesso dessa série não é mera obra do acaso.

Escalpo – Jason Aaron e R. M. Guera

Uma das melhores séries publicadas pela Vertigo, reunindo referências que vão do cinema á séries de TV. Talvez este seja o melhor trabalho de Jason Aaron, que constrói uma história bastante visceral, prendendo o leitor desde o primeiro capítulo. Fantástico!

Confira nosso review do primeiro volume de Escalpo!

O Imortal Hulk – Al Ewing e Joe Bennett

Uma das melhores séries de super-heróis em publicação atualmente. Al Ewing volta à origem do Hulk e constrói tramas repletas de terror, remetendo ao trabalho feito por Alan Moore no Monstro do Pântano (obviamente, sem o mesmo refinamento). E tudo é muito bem ilustrado por Joe Bennett, que utiliza diversas referências ao cinema de horror, principalmente o dos anos 80. É muito bom ver o Hulk com boas histórias novamente, o personagem merecia isso.

Confira nosso review do primeiro volume de O Imortal Hulk!

O Ninguém – Jeff Lemire

Jeff Lemire demonstra novamente toda sua sensibilidade e capacidade de construir histórias muito humanas com essa belíssima releitura do clássico O Homem Invisível de H. G. Weels. As relações entre os personagens são muito bem construídas, a ambientação é muito cativante e a arte e a excepcional narrativa de Lemire combinadas solidificam a trama e mostram o porquê deste canadense ser considerado um dos melhores quadrinistas em atividade.

Black Hammer – Jeff Lemire e Dean Ormston

Sim, mais uma vez Lemire aparece neste texto e é um pouco difícil não colocá-lo tantas vezes já que ele produz diversos trabalhos de muita qualidade. Black Hammer é uma belíssima homenagem aos super-heróis, além de ser aquele tipo de trama na qual Lemire é especialista: repleta de relacionamentos bem construídos e sensibilidade. É uma das séries favoritas, tanto que sempre que um novo volume é publicado ele se torna prioridade em minha pilha de leitura. Indispensável.

Confira nossa Recomendação da Semana sobre Black Hammer!

Blacksad – Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido

Uma narratitiva noir que prende o leitor desde a primeira página, seja pelo roteiro bem escrito de Canales, seja pela arte de um dos mais talentosos artistas em atividade, Juanjo Guarnido. Além disso, os autores sempre conseguem inserir críticas sociais bastante contundentes ao longo das tramas. Quadrinho espetacular!

Konungar – Sylvain Runberg e Juzhen

Uma de fantasia que reúne o melhor do gênero: batalhas gigantescas, intrigas políticas e um mundo bastante vasto. O roteiro é muito bem construído, mas o grande destaque deste quadrinho é a arte fora do comum, um trabalho deslumbrante. Se você é fã do gênero, não pode deixar de ler.

Confira nossa review de Konungar!

Gideon Falls – Jeff Lemire e Andrea Sorrentino

Jeff Lemire de novo? Pois é, o cara é imparável e em Gideon Falls ele foge bastante da linha de seus trabalhos mais tradicionais. Aqui ele escreve uma história de terror e mistério, bastante intrincada e que a cada número levanta mais questões em seus leitores. Pode ser um pouco confuso em alguns momentos, mas é impressionante como após ler o primeiro capítulo, você não vai mais querer largar a série.

Confira nossa Recomendação da Semana sobre Gideon Falls!

Finalmente chegamos ao fim deste top 15 (que na verdade é um top 27 rs) de melhores leituras do ano de 2019. Este foi um ano de boas leituras e espero que o próximo seja ainda melhor. E você, quais foram suas melhores leituras em 2019? Tem alguma coisa em comum com a minha lista? Deixa aí nos comentários, vamos trocar recomendações. Sempre descobrimos algo novo nesse tipo de discussão.

Lembrando que agora o Justiça Geek entrará de férias (afinal merecemos né? rs) e voltará com força total em fevereiro de 2020. Obrigado por nos acompanhar neste ano e esperamos vê-los no ano que vem. Um feliz 2020 e até lá!

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Lucas Araújo

Programador, estudante de TI e co-fundador do Justiça Geek. Fanático por quadrinhos, aficionado por filmes e séries, leitor faminto, gamer esporádico e músico (muito) frustrado. Gosta de falar sobre tudo isso em seu tempo livre(ou até mesmo quando não está tão livre...), debatendo questões essenciais para a humanidade como quem vence um crossover entre super- heróis, qual é seu escritor favorito e se um filme foi bem feito.